quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

6x05 - Tudo faz parte do plano

Temporada 6, episódio 5 - Tudo faz parte do plano

Certa manhã de domingo, após voltar de uma balada em Porto Alegre, leio uma placa de uma lojinha de quinquilharias antigas e, aproveitando que o proprietário do estabelecimento estava por perto, falei: “Senhor, bom dia. Não pude deixar de reparar que a placa daquela carroça, lá da frente, contem um erro: sítio é com ‘s’, e não com ‘c’”.
Todos os dias, de segunda à sexta-feira, eu faço o mesmo caminho para ir ao trabalho. Dessa forma, todos os dias eu me deparo com a mesma BR 116, com o mesmo mercado do “Seu Zé”, com a mesma igreja, com a mesma rodoviária e com a mesma loja de antiguidades que fica na entrada do bairro vizinho à qual moro. Esta é uma rotina que muitos de vocês fazem e que passam pela mesma situação que eu. Algumas coisas conseguem me chamar à atenção e, uma delas, é a ortografia apresentada em anúncios, redações escolares, placas e afins.
Em certa manhã percebi que aquela simpática casa da esquina havia se transformado em uma singela loja de antiguidades. Admirei a genialidade do proprietário que transformou ferros retorcidos em suporte para flores e uma carroça velha em um “escorregador reciclável” – a placa dizia “Venha conhecer o primeiro escorregador reciclável do mundo”. Essa placa, por si só, já era engraçada pela audácia do senhor empreendedor do quase-museu da BR 116, mas a placa ao lado era mais cômica: “Tudo para o seu cavalo: do fucinho (sic) ao rabicó”. Certamente, a grafia correta seria “focinho”, porém como era um erro tipicamente normal, aquilo passou despercebido.
A cada dia que passava a lojinha da esquina da BR passava por reformas e mais placas interessantes. “Estacionamento próprio” e uma seta desenhada abaixo apontava o local para os clientes estacionarem os seus carros. Tais clientes eram recepcionados com um belo dizer: “Ceja (sic) bem vindo!”. Se eu tivesse uma máquina fotográfica tiraria uma foto e mandaria para o Kibeloco e deixaria meu nome na célebre “Pracas (sic) do Brasil” que o blog humorístico mantem. Pensei que nada poderia ocorrer de erro quando, ao passar pela placa indicativa para o estacionamento, tropeço em outra: “Estacionamento pórprio (sic)” – o erro tão idiota que até o Word corrige automaticamente.
O último grande crime contra a Língua Portuguesa foi uma placa de outra carroça velha que dizia o seguinte: “Estou a venda. Estou louca para ir para um cítio (sic)”.
Assim foi, dia após dias, meus olhos açoitados pelas belas placas e suas grafias impecáveis, até o dia em que eu tomei coragem e comentei com o senhor, dono do lugar, sobre o tal erro. “Senhor, bom dia. Não pude deixar de reparar que a placa daquela carroça, lá da frente, contem um erro: sítio é com ‘s’, e não com ‘c’” – comentei com ele. Aquele senhor me olhou por dois segundos, deu uma risadinha marota e respondeu: “Interessante, mas aquilo te chamou a atenção, certo?”. Afirmei com a cabeça e ele finalizou, batendo o indicador na cabeça como sinal de astúcia: “Então consegui o que eu queria! Tudo faz parte do plano!”.
Pela primeira vez em muito tempo alguém conseguiu me deixar sem palavras.

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