quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

6x06 - Sem o meu guarda-chuva

Temporada 6, episódio 06 - Sem o meu guarda-chuva

Já estava na hora de voltar para casa naquela noite de quinta-feira abafada. Nuvens carregadas davam a entender de que a chuva chegaria mais cedo ou mais tarde – eu torcia que fosse mais tarde. A ideia de tomar um banho de chuva nos 3km de trajeto, trinta minutos de caminhada, da escola onde trabalho até a casa onde (ainda) moro, não me agradava nenhum um pouco. Acreditando que a chuva não cairia durante o percurso, optei por retornar ao lar sem um guarda-chuva na mochila.
Tremendo engano professor Monteiro. Pouco mais de quinhentos metros de percurso e a chuva dava o ar da graça, caindo aos poucos, inofensivamente. Segui despreocupado pela avenida até que “a coisa ficou séria”. A inexpressiva precipitação estava se tornando numa bela ameaça. Apertei o passo e esperei por alguns segundos a chuva acalmar, debaixo de uma árvore, mais ou menos na metade do caminho.
Pensei por um momento: André, tu reclamou de calor a semana toda, estava implorando por chuva e agora quer escapar dela? E as coisas funcionam bem assim mesmo: você tanto quer uma coisa, reza, pede e implora, e quando o “presente” é dado, se faz desdém e não quer mais. Ser humano é um animal estranho: só dá o devido valor quando não se tem ou se perde as coisas. O que eu mais queria naquela semana estava ali disponível! Com essa mentalidade, certifiquei de que a minha mochila estava devidamente fechada e saí de minha zona de proteção. Só porque o que eu mais queria estava ali disponível não quer dizer que eu não deva me proteger e ser cauteloso.
A chuva por si só tem o poder de lavar a alma. A equação “noite abafada” mais “dia cansativo” mais “deixei meu guarda-chuva” é igual a “reflexão sob a chuva”. Ótima combinação - estava na hora de algo chegar e levar o que ainda me prendia ao ano de 2011. E assim foi, junto com as minhas pegadas, marcas de um passado ficavam pelo chão, deixadas lá e apenas lembradas como parte do meu caminho.
 Chuva de verão sem raios e trovões não é chuva de verão. Quem me conhece sabe que poucos fenômenos da natureza me amedrontam: relâmpagos, raios e trovões (sim, todos da mesma família). Observei lá no horizonte a beleza assustadora de alguns raios. O coração acelerou, mesmo sabendo da ínfima possibilidade daquilo me fazer algum mal. Pensei novamente: pra que ter medo? Já deixei para trás o que hoje não me faz feliz e é natural que nem sempre haverá chuva branda. Uma chuva sem trovoadas é como uma vida sem desafios. Algumas (chuvas) com certeza causarão estrago em dado momento. É natural – eventos nos arrasam, mas a bonança é certa depois de tudo.
Finalmente cheguei em casa, molhado, sem medo dos raios e com os rastros de um passado pelo caminho. Ao fim, me convenci de que deixei o guarda-chuva de propósito – temos que aprender a caminhar sem a nossa proteção de vez em quando. 

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